domingo, 27 de janeiro de 2008

Temos que ir á Bruxa!

Avintes – SC Coimbrões (futebol de 11)
O título é elucidativo do meu estado de espírito. Em 15 dias voam 5 pontos de forma inexplicável.
Mais uma vez dominamos o jogo, fomos superiores mas fomos traídos pela infelicidade. Com um início muito forte e dominador acabamos traídos na 1ª vez que o Avintes sobe á nossa área num golo que surge num erro defensivo nosso.
Tivemos a capacidade, a força e a atitude suficientes para reagir e para repor a igualdade. O empate ao intervalo soava a injustiça, mereciamos estar a vencer.
Na 2ª parte não fomos tão brilhantes. Apesar de termos o jogo “aparentemente” sempre controlado, apesar de termos o domínio sobre a posse de bola e superioridade na qualidade da posse de bola, acabamos por sofrer um golo a um minuto do fim.
Detesto justificar resultados recorrendo á sorte ou ao azar. Mas por muito que me esforce não consigo separar os dois últimos resultados de um sentimento de tremendo azar. É certo que contra o Avintes ,sobretudo na 2ª parte, a ânsia de vencer destes atletas acabou por se reflectir no futebol que apresentamos de uma forma nem sempre positiva, uma vez que começamos a jogar demasiadamente directo, deixando de tentar construir como o estavamos a fazer e bem na 1ª parte. É certo também que defensivamente não tivemos uma boa prestação e o nosso ascendente na 2ª parte só é conseguido depois da nossa defesa começar a tirar proveito da regra do fora de jogo.
Mas parece-me inegável que fomos superiores, apresentamos mais e melhor futebol e até o empate seria injusto para a nossa equipa.
Enfim!

Resta-me dar os parabéns aos nossos atletas que têm dignificado a camisola e têm dado tudo o que têm para conseguir o resultado que todos desejamos, a vitória. Infelizmente não tem sido possível, mas a equipa técnica continua extremamente confiante neste grupo.
Vamos rapazes, estamos a trabalhar bem, estamos a jogar bem!

Penafiel-SC Coimbrões (fut7)
A equipa de fut7 rubricou no passado sábado uma exibição agradável. É certo que o resultado não foi o pretendido, mas creio que estes miúdos (sobretudo na 1ª parte) tiveram períodos de muito bom futebol, tiveram 4,5 combinações de elevado nível e de elevada dificuldade de execução e como tal estão de parabéns.
O Penafiel apresentou uma equipa baseada unica e somente na capacidade atlética dos seus atletas. Pouco qualidade no seu futebol, pouco talento. Pura e simples vontade de ganhar custe o que custar. Conseguiram-no, estão de parabéns por isso, mas com miúdos 1 e 2 anos mais velhos do que os nossos estiveram longe de convencer alguém que têm mais talento que a equipa do SC Coimbrões.
Temos sem dúvida alguma mais perfume de futebol, mais talento e margem, mas a inexperiencia (fruto do facto da maioria destes atletas estarem num quadro competitivo pela primeira vez) e a menor capacidade física que nos leva a dar o “estouro” a partir dos 10,15 minutos, não nos permitiram sair com um resultado mais positivo.
Parabéns campeões, tiveram boa atitude, tiveram bons períodos de futebol e estão a “crescer” a olhos vistos. Mereciamos o golo!

Termino deixando algumas considerações.
Tenho assistido ao longo destes meses de trabalho no SC Coimbrões e assisti, particularmente, neste fim de semana a algumas situações que me desagradam e que por outro lado me intrigam.
A componente física é, hoje em dia, fundamental no futebol. Um jogo mais pensado, os enredos tácticos característicos do futebol actual, etc, reduzem o espaço para se jogar e exigem dos atletas maior capacidade atlética em toda as suas componentes. Contudo se passarmos para a realidade do futebol de formação tudo muda de figura.
Estamos a falar de futebol de iniciação, estamos a falar da primeira etapa da formação de jovens atletas. É uma fase sensível, extremamente exigente e onde o bom senso e um trabalho responsável e atento é obrigatório.
Um dos primeiros desafios com que um treinador de escolas se depara é o recrutamento dos atletas que vão compor a equipa. A resposta sobre quais os critérios base que devem orientar esse recrutamente, essa selecção, parecem-me óbvios: talento e margem de progressão.
Infelizmente nem todos os treinadores pensam da mesma forma. Se olharmos para os atletas que compõe o Avintes e também o Penafiel percebemos que a selecção feita foi baseada em padrões físicos e não em padrões de qualidade. Alguns treinadores na ânsia de vitória e de construir carreira a qualquer custo deixam “turvar” o seu conceito de futebol de formação e passam a apostar em atletas que lhes dão garantias de sucesso imediato colocando em segundo lugar aquilo que deveria ser a questão nuclear: formar e potenciar o talento dos atletas. É triste que ,por exemplo, o Penafiel (clube com tradição) opte por apostar em atletas com pouca coordenação, pouca relação com bola e pouco “feeling” para o jogo. Atletas que irão chegar ao futebol de especialização (sobretudo juvenis e juniores) e irão acabar para o jogo, uma vez que a capacidade física começará a ser cada vez mais homogenea entre todos os atletas. Fez-me muita confusão perceber que os dois atletas mais talentosos da equipa eram os menos utilizados por serem mais franzinos (como alias uma mãe de um atleta do Penafiel o confirmou).

Em segundo lugar o conceito de formar pressupõe uma formação em termos desportivos mas também éticos. É obrigação dos treinadores potenciar o talento para o desporto, mas também o respeito pelos outros, o respeito pelas regras e a formação enquanto indivíduos de tão jovens atletas.
Ao olhar para a equipa do Avintes percebemos que essa “etapa” está a ser negligenciada. Os atletas são excessivamente agressivos e como não acredito em miúdos maus de berço, só posso entender tamanha agressividade como algo incutido por quem os dirige. Alias ao constatar que o capitão de equipa é o atleta mais agressivo e que menos respeito demonstra pelos adversários e pelo árbitro, fico com a certeza que é algo que lhes é incutido e não algo que “nasce de berço”. É triste e mais triste é quando se percebe que essa agressividade ainda é alimentada por quem assiste de fora aos jogos.

O terceiro e último ponto diz respeito á forma de dotar estes jovens de instrumentos que lhes permitam ser atletas melhores.
O Avintes é o 3º classificado da nossa série. Como tal seria de esperar que o Avintes fosse uma equipa com jogadores talentosos e com um futebol de qualidade.
A realidade nua e crua demonstra que é uma equipa que baseia o seu futebol unica e exclusivamente na capacidade física dos seus atletas. Muito choque, chutão para a frente. Não tenho dúvidas que este tipo de futebol e estas características trazem resultados desportivos a curto prazo, pois estamos a falar do escalão de escolas, escalão esse onde o factor físico consegue ser verdadeiramente desiquilibrante.
Mas será que é esse o caminho que deve ser seguido? Será que é esse o tipo de futebol que vamos querer que as nossas crianças interpretem no futuro? Será essa a forma de dotar estes atletas de instrumentos que lhes permitam sonhar em fazer carreira no futebol?
Será que é o chutão para a frente, a falta anti-desportiva ou o canto em que se levanta e bombeia-se a bola para a área que vai contribuir para a formação destes atletas?

Quanto a mim estas são 3 questões pertinentes e que norteiam a minha maneira de pensar sobre o que é formar. São questão que me levem a seguir um rumo e a acreditar num trabalho que poderá não ter o melhor dos resultados desportivos possível, mas estou certo que será o tipo de trabalho que melhor serve a formação destes atletas.
Enquanto formador, enquanto treinador, interessa-me incutir nestes jovens o gosto pela prática de um futebol positivo. Um futebol ofensivo, com bola no chão, a circular entre sectores, o gosto pelo flanqueamento, a capacidade para ir para um contra um, as combinações a 1, 2 toques. Ou seja um futebol mais complexo, mais difícil de executar, mas um futebol mais inteligente, mais completo e que mais se assemelha aquilo que será exigido a estes atletas em idades mais avançadas.
Hoje certamente não será o tipo de futebol que garante vitórias. Mas será o tipo de futebol que amanha garantirá a estes jovens ferramentas para ultrapassarem os diferentes patamares de exigencia á medida que as suas carreiras se aproximam do futebol de alto rendimento (leia-se futebol profissional).
Por outro lado a matreirice pode ser importante para os resultados desportivos.Constato ao longo dos jogos que por vezes saimos prejudicados em termos de futebol por sermos pouco matreiros, mais macios. Será necessariamente negativo? Deveremos incutir neste jovens a matreirice que condenamos enquanto adeptos nos jogadores profissionais?
Quanto a mim estes atletas devem ser formados com base no respeito pelas regras, com base no respeito pelos arbitros e pelos adeptos e no respeito pelos adversários. É verdade que os nossos atletas se poderiam deixar cair neste ou naquele contacto, poderiam recorrer á falta sempre que estivessemos perante um contra-ataque perigoso (uma vez que muito dificilmente um escola seria expulso), mas vamos contribuir para que estes miúdos cresçam como “batoteiros”?
Não é a minha maneira de pensar o futebol. Acredito que a boa formação dos atletas deve partir logo do futebol de base. Enquanto atleta ensinavam-me a simular faltas, hoje, como treinador, seria incapaz de fazer os mesmo.


Como tal só posso concluir que é, curiosamente, na hora da derrota (Penafiel e Avintes) que mais me consigo orgulhar do trabalho que eu, os meus colegas e os meus jogadores vimos fazendo.
É a procura por um futebol positivo e complexo, é a construção de um balneário marcado pela amizade, solidariedade e respeito,e é a formação psicológica baseada em pressupostos éticos e responsáveis , que me fazem acreditar que estamos no rumo certo e que estamos a prestar o melhor dos serviços a estes jovens.
Mais do que resultados devemos formar! É óbvio que todos queremos ganhar, todos damos o máximo para vencer cada partida, mas enquanto responsáveis por um grupo de jovens entre os 8 e os 11 anos, temos que ter a frieza para não sobrepor os nossos interesses pessoais ao melhor para estas crianças!

Boa semana para todos!
Cumprimentos
Nelson Oliveira

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